quinta-feira, março 26, 2009

Alimente-se da Palavra

Eno Theodoro Wanke, poeta e engenheiro brasileiro, afirmou com muita propriedade: “ Um livro pode ser nosso sem nos pertencer. Só um livro lido nos pertence realmente.” Aprofundando essa idéia em relação a Bíblia, ela somente nos pertence se além de lida, for por nós encarnada.

A leitura correta da Bíblia só é feita quando, ao mesmo tempo, buscamos vivê-la. Caminhar pela vida incorporando a leitura à vida e vice-versa. Os conteúdos das Escrituras não têm como propósito encher nosso cérebro de informações através de exercícios de memorização, mas o propósito da leitura da Bíblia é transformar a nossa vida pela prática dos princípios e valores por ela ensinados.

Precisamos permitir que a Palavra penetre em nossa alma para trabalhá-la. Certa ocasião, Jesus falou aos Judeus: “Eu sou o pão da vida. Os seus antepassados comeram o maná no deserto, mas morreram. Todavia, aqui está o pão que desce do céu, para que não morra quem dele comer”. (João 6.48-50).

A escolha é nossa, podemos continuar comendo um maná borolento incapaz de nutrir trazendo saúde e conseqüentemente vida. Mas temos também a opção de nos alimentarmos do “Pão que desce do céu”, o Verbo que se fez e se faz carne. Se fez carne na pessoa de Jesus de Nazaré e se faz carne na vida de qualquer pessoa que Dele se alimente.

Podemos nos alimentar do fermento dos fariseus e transformarmo-nos em hipócritas, mas temos à nossa disposição o pão que nos transforma em gente cheia de graça e de verdade, gente boa, do bem, apesar de imperfeitos.

Leia a Bíblia como quem saboreia a melhor iguaria, sem pressa, pois o importante não é a quantidade de capítulos que lemos, mas nossa capacidade de apreciar o que está diante de nós: a Palavra de Deus; não é para encher a cabeça, mas o coração. Deus, como disse Rudolf Otto, teólogo alemão, é Misterium Tremendum, foi Dele, através do Espírito Santo que essa Palavra foi gerada, e escrita por humanos com beleza e bondade, por isso requer-se do leitor que deseja comer desse Pão como disse o poeta Rainer Maria Rilke: "que nem sempre permaneça curvado sobre as páginas; ele freqüentemente se recosta e fecha os olhos sobre uma linha”. A essa forma de leitura os antigos chamavam lectio divina, leitura que penetra o espírito transformando-se em amor , santidade e sabedoria.

Sente-se à mesa com Jesus; receba o pão das mãos dele; desacelere; coma-o lentamente; entre no mundo de Deus, pois só um livro realmente lido nos pertence e nos transforma.

Desejo essa mesa, estou apaixonado por aquele que parte o pão, por aquele que é o Pão. Pão que me faz viver, e que me transforma. Afinal de contas como dizem alguns: você é o que você come! De que se alimenta sua alma?
Um grande abraço!

Otacílio de Pontes.
Pastor da Betesda Joaquim Távora

terça-feira, março 24, 2009

O sal da terra e a Luz do mundo

"Vivemos feito bandos de ratos aflitos, recorrendo à droga, à bebida, ao delírio, à alienação e à indiferença, para aguentar uma realidade cada dia mais confusa" (LIA LUFT).

A gente se acostuma a criticar os jovens por eles serem pouco educados, os homens por serem arrogantes, as mulheres por serem chatas, os governos por serem omissos ou incompetentes, quando não mal-intencionados. Políticos sendo acusados de corrupção é tão trivial que as exceções se vão tornando ícones, ralas esperanças nossas. Onde estão os homens honrados, os cidadãos ilustres e respeitados, que buscam o bem da pátria e do povo, independentemente de cargos, poder e vantagens?

Transgredir no mau sentido é natural entre nós. Ladrões e assassinos, mesmo estupradores, recebem penas ridículas ou aguardam o julgamento em liberdade; se condenados, conseguem indultos absurdos ou saem em ocasiões como o Natal, e boa parte deles naturalmente não volta.

Crianças continuarão a ser estupradas, inocentes mortos, velhinhos roubados, mulheres trancadas em suas casas, porque a justiça é cega, porque as leis são insensatas e, quando prestam, raramente se cumprem.

Nesta nossa terra, muitos cidadãos destacados, líderes, são conhecidos como canalhas e desonestos, mas, ainda que réus confessos ou comprovados, inevitavelmente se safam.

Continuam recebendo polpudos dinheiros. Depois de algum tempo na sombra, feito eminências pardas, voltam a ocupar importantes cargos de onde nos comandam. Assassinos ao volante nem são presos. Se presos, são soltos para o famoso "aguardar o julgamento em liberdade". Centenas e centenas de vidas cortadas de maneira brutal e o assassino, a não ser que acossado pela culpa moral, se tiver moral, logo voltará ao seu dia-a-dia, numa boa. Se invadir a casa de meu vizinho, fizer seus empregados de reféns, der pauladas na sua mulher ou na sua velha mãe e escrever nas paredes com excremento humano frases ameaçadoras, imagino que eu vá para a cadeia. Os bandos de pseudoagricultores (a maioria não sabe lidar na terra) fazem tudo isso e muito mais, e nada lhes acontece: no seu caso, bizarramente, não se aplica a lei.

Se sobram muitas vagas nos exames vestibulares, em alguns casos simplesmente se fazem novas provas, provinhas mais fáceis. Leio (se me engano já me desculpo, nem tudo o que se lê é verdadeiro) que, como são poucos os aprovados nos exames da OAB, porque os estudantes saem despreparados demais das faculdades de direito que pululam pelo país, o exame se tornou mais simples: há que aprovar mais gente. Quantidade, não qualidade. Governantes, os bons e esforçados, viram objeto de ódio de adversários cujo interesse não é o bem da comunidade, estado ou país, mas o insulto, o desrespeito, a violência moral do pior nível. Aliás, nesses casos o nível não importa, o que importa é destruir.

Eis o paraíso dos transgressores: a lei é a da selva, a honradez foi para o brejo, a decência tem de ser procurada como fez há séculos um filósofo grego: ao lhe indagarem por que andava pela cidade com uma lanterna acesa em dia claro, declarou: "Procuro um homem honesto". O que devemos dizer nós? Temos pouca liderança positiva, raríssimo abrigo e norte, referências pífias, pobre conforto e estímulo zero, quase nenhuma orientação. A juventude é quem mais sofre, pois não sabe em que direção olhar, em que empreitadas empregar sua força e sua esperança, em quem acreditar nesse tumulto de ideias desencontradas. Vivemos feito bandos de ratos aflitos, recorrendo à droga, à bebida, ao delírio, à alienação e à indiferença, para aguentar uma realidade cada dia mais confusa: de um lado, os sensatos recomendando prudência e cautela; de outro, os irresponsáveis garantindo que não há nada de mais com a gigantesca crise atual, que não tem raízes financeiras, mas morais: a ganância, a mentira, a roubalheira, a omissão e a falta de vergonha. E a tudo isso, abafando nossa indignação, prestamos a homenagem do nosso desinteresse e fazemos a continência da nossa resignação. Meus pêsames, senhores. Espero que na hora de fechar a porta haja um homem honrado, para que se apague a luz de verdade, não com grandes palavras e reles mentiras.

Mateus 5:13-16.

13 Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaura-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.
14 Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.
15 E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.
16 assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está no céu.

Somos sal

A palavra acima expressada em parábolas, ou mesmo metáforas, é uma descrição perfeita, de como nós cristãos devemos ser e nos portar. Sal, definido pelo diconário Aurélio, quer dizer, 1
Composto cristalino de sódio (NaCl), encontrado em estado natural em alguns terrenos ou diluído na água do mar. Usado como condimento e na conserva de carnes; na indústria, tem larga aplicação.

Mas, do que estamos falando, sal significa dizer que, nós cristãos devemos ter uma vida reta, a ponto de passarmos, transferirmos as nossas atitudes a outros. Na mesma linha de uma frase popular, “às vezes, as atitudes falam mais que palavras.” E até ratifico essa frase e ainda mais digo-lhes, nós somos sempre alvo daquilo que falamos e da forma que agimos a todo tempo.

Devemos nos comportar da maneira mais verdadeira e condizente em todos os momentos. Não existe essa de que sou crente aqui ou ali, mas a todo tempo. Decerto que como temperos, temos a capacidade de transferir nosso gosto, a mais, ou em falta.

É certo que todos que tem a familiaridade com a cozinha, com o processo de cozimento e as mais variadas ações que geralmente, uma dona de casa sabe fazer e bem, sabemos que para se chegar ao ponto do tempero, não se deve pegar um pouco de sal e jogarmos, ou muito. As donas de casa, pela própria experiência tem a manha de saberem ao seu gosto o ponto certo da comida.

Quando nos convertemos nos tornamos o sal da terra. Jesus Cristo é a palavra encarnada. O verbo que se fez gente. Sal é questão de caráter, influência, salgar, estarmos juntos. Algo próximo. Algo que me é característico. Caráter = característica. O sal tem uma função familiar, amigável. Como chamar alguém para almoçar em sua casa e Jesus sabia bem isso. O sal é sentido, é misturado. Quando o sal salga, é imperceptível porque ele se dilui em água e assim é que devemos ser influenciadores. Pelo nosso comportamento damos forma a outros, os caracteres das outras pessoas vão sendo moldados, imperceptíveis como sal.

Por exemplo:
O Amor (minha linda esposa Karynne) foi fazer compras e o caixa esqueceu de incluir duas caixas de leite nas compras, mas já tinha passado. Logo, o Amor levantou as duas caixas de leite e perguntou se ela já tinha passado. Ela ficou espantada e disse: - Ninguém faz isso. Poderia ter passado e nem mesmo me avisar.
E em nenhum momento o Amor falou que era crente, mas naquele momento ela provou com sua atitude que era sal, diferente, das pessoas que geralmente sabemos e vemos na nossa realidade.
Essa poesia me faz refletir. Veja:

O Sal da Terra

Anda, quero te dizer nehum segredo
Falo nesse chão da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da Terra
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
Canta, leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com teus frutos
Tu que és do homem a maçã
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor
Deixa fluir o amor
Deixa crescer o amor
Deixa viver o amor
(O sal da terra)

Somos luz

A nossa responsabilidade ativa é outro aspecto que devemos ressaltar no sermão. “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo...” (5.13,14). Não existe um discipulado de contemplação, mas sim de ação. A responsabilidade ativa diz respeito à nossa ação para transformar o mundo, deixando nele a marca de sabor e de orientação que o verdadeiro cristão deve sempre ter. Ainda mais: a nossa responsabilidade ativa também diz respeito a nós mesmos, nos muitos alertas do

Mestre para não nos descuidarmos e não nos perdermos. A palavra de Deus é a luz que ilumina o nosso caminho. A luz diferente do sal é para ser percebida.

Levando como exemplo, o farol era utilizado como direcionador e assim preciso fosse que tivesse luz. Como ele poderia direcionar os barcos não estando com luz? Jesus é comparado à luz. A luz que alcança uma amplitude maior. A luz quando ligada é algo visto, real e todos nós podemos ver.

A luz é o aberto e gritante evangelho. Nós devemos anunciar esse evangelho, as boas novas de Jesus.

Quando a gente sai para evangelizar, não somos somente sal, mas especialmente luz, pois nos caracterizamos como Jesus. As nossas atitudes são evidentes porque dispomos da palavra, para pregar a Palavra.

E isso me faz lembrar uma música da Aline Barros:

Tua palavra é Luz para o meu caminho
Tua palavra lâmpada para os meus pés
E o Teu amor é como a doce água
Que vem a mim como em meio à um deserto
Como orvalho que desce em plena terra seca
E dela faz surgir verdes pastos
Quero fazer valer Tua palavra em mim
Pra que o doente tenha onde se curar
Quero fazer valer Tua palavra em mim
Pra que o mundo saiba que Tu és Senhor
Tu és Senhor, Tu és Senhor Jesus
Pois em meio, em meio a Tua palavra
Se fizeram os céus
E o brilho do sol
Se fez reinar em meio as trevas.

Deus os abençoe.

Eládio Batista