quinta-feira, dezembro 18, 2008

Ensina-nos a contar os nossos dias.

Hoje, intento apenas em dizer poucas palavras. Talvez menos palavras que o de costume, mas acredito que o suficiente ao que sinto lhes falar, pois acredito que o melhor a sentir está no simples momento de o ser e viver.
Nesses dois dias, tenho pensado muito em tudo o que tenho feito, como tenho agido e o que estaria plantando para mais tarde. E muito tenho me entristecido, muito me tem trazido tristeza, pois não tenho sido um “bom rapaz”. Não tenho sido um marido, como deveria ser; não tenho sido um pai, como deveria ser; não tenho sido um colega de trabalho, como deveria ser. E muito certamente, não tenho sido um cristão, como deveria ser.
Tenho trazido importância ao que não tem importância, ou ao que não deveria ser importante, ao que realmente é importante. Ou talvez, tenho colocado um valor, onde não caberiam sequer reles centavos. E nesses dois dias, tenho encontrado o suficiente para me direcionar a agir contrário ao engano como estava agindo, pela a singeleza de viver.
Não quero percorrer o caminho emaranhado da tristeza, que assola o pai, por não ter escolhido escutar o filho e tão conseqüentemente evitado um vício mortal. Não quero abraçar o orgulho, por não ter escolhido pedir perdão, ou perdoar minha esposa, devido uma palavra mal colocada, num momento tempestuoso; Não quero dar as mãos à indiferença, ao ver pessoas famintas e sequiosas; Quero abrir os braços e viver a singela maneira de viver, como Moisés proferiu a Deus:

Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos sabedoria.
(Salmo 90-12)


Vocês se lembram que o Amor (aqui, substantivo próprio) pregou com este versículo na semana passada? Pois bem, quero lançar um novo olhar acerca deste versículo. Mergulhar na densidade da Bíblia, porque ela me possibilita imergir. Mergulhar nas palavras do poeta, nadando nas correntes da interpretação de um outro olhar. Com certeza, o Espírito Santo de Deus utilizou-se do amor, quando ela esteve aqui na frente compartilhando com vocês o que ela tem entendido, e hoje eu os desafio a mergulhar também no oceano da Palavra, que é rica e dinâmica. Lance seu olhar, abra seu coração...

Ponto 1: Ensina-nos a contar os nossos dias

É inevitável buscarmos em nossos pensamentos, momentos em que poderíamos ter mudado o rumo de nossas vidas. Vez por outra tenho me perdido em meio aos meus pensamentos, num dado momento tão meu, que eu poderia ter agido diferente e hoje TALVEZ vivendo momentos melhores. Lembro-me das inúmeras oportunidades que tive nas mãos. Fico amargando as lembranças do passado, que já foram assoladas, pois já se passou. Mas, se eu tivesse esperado mais um pouco, teria dado certo. Se eu tivesse dito sim, hoje seria diferente. Se eu tivesse insistido, talvez minha vida tivesse dado outro rumo. E isso em dado momento me trás amargura, tristeza e melancolia por algo que jaz, que ficou à espreita da porta, à mercê do aquém. Que pediu carona à volta e nem se despediu dos meus desejos. Que permaneceu calada, e nem mesmo me cutucou à espera de uma reação, ao que ficou lá trás. Mas, olha só... Preste atenção, pois eu poderia ter sido isso, ou aquilo. Sabe que nem mesmo sei o que poderia ter sido. Mas... poderia...
O que isso me traz de lucro? O que isso me favorece? O que de valor posso tirar desses momentos de “Madalena Arrependida”, do que eu poderia ter feito?
Muito mais tenho a me alegrar, ver os impulsos pueris de meus dois filhos, que desenfreados correm casa à dentro, num espaço tão pequeno de um apartamento, mas mesmo assim, sentem-se felizes porque podem brincar. Ver o sorriso da Bia, grata porque estou ao seu lado na hora de ir ao banheiro, com medo de estar só. Ver a inquietude do Lipe, saltitante, lépido, porque eu lhe trouxe uma camiseta nova. Ver o Amor feliz porque para ela a minha presença lhe basta, e nem preciso lhe falar nada. Coisas do “amor”!
O que tenho deixado de lado, e não tenho vivido a singeleza de viver, porque tenho me atido ao que já passou? O que tenho deixado passar, porque dei importância à “não” resposta dada no passado, que poderia ter sido diferente, mas não foi? Será que tenho deixado passar o sorriso de meu filho, as lágrimas felizes de minha filha, ou deixado passar aquele abraço gostoso de minha mãe, inebriada pela saudade? Será que tenho deixado alçar vôo aquele abraço amoroso que minha cônjuge ansiava, quando cheguei do trabalho exausto e nem mesmo dei importância? Será que tenho vivido os dias e deixado meus relacionamentos passarem como “a ver navios” guardados em porta-retrato? Ensina-me meu Pai a contar os meus dias, para que eu não permita passar um dia, sem contemplar a beleza de viver. Ensina-me Pai a contar os meus dias e a viver o amor de meu próximo. Ensina-me Pai a contar os meus dias e contemplar a beleza de viver. Ensina-me Pai a dizer sim ao dia, a dizer um simples bom dia.

A vida é rara, só a experimentamos uma vez. Devemos tratá-la como o dom mais sagrado que recebemos de Deus. Quem não souber valorizá-la, antecipa o inferno.
(Pr. Ricardo Gondim, Sem Perder a Alma, pp. 29).

Ponto 2: Para que alcancemos sabedoria.

Estamos lendo o novo livro do Pr. Ricardo Gondim. Lendo-o não como o algoz do Protestantismo, ou muito menos lendo-o como o oráculo da verdade dos crentes, dos Betesdas, ou Betesdianos, mas lendo-o como uma referência cultural de uma igreja cristã, contrária aos abusos exteriores e interiores, lendo-o a sua singeleza de brincar com as palavras, num jeito seguro, cândido, cheio da Graça reveladora de Jesus, na busca sangrenta de viver um cristianismo autêntico e verdadeiro. Busco em suas palavras, reter o máximo que me é possível, mesmo que para amadurecer aquilo que está escrito eu demore anos. Mas, é gostoso enveredar em suas palavras, que me entram vívidas, como se as atitudes, as ações, as decepções a mim pertencesse. Leio-o desprendido dos alicerces duros de um pré-julgamento irresponsável, pois ele me expressa exemplo de um homem sábio.

Leio o blog do Pr. Elienai onde está escrito: A outra maneira de lidar com tempo é a sabedoria. É disso que fala o poeta no Salmo 90: ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos um coração sábio. A sabedoria não chama de belo o que foi feio, nem finge que o mal não aconteceu. Também não se engana com o futuro. Sabe que a vida continua sendo uma mistura de aflição e prazer. Que há coisas que melhoram e coisas que pioram. Mas não se rende a um conformismo suicida. Olha para o que passou e aprende. Olha para o futuro como um tempo não definido e toma as decisões que importam.

O objetivo final de saber contar nossos dias é a sabedoria. “Para que alcancemos sabedoria”, algo contínuo, porque não se alcança sabedoria de um dia para o outro. Saber que a vida é um dom precioso de Deus. Entender que Deus nos proporciona viver, na mais singela beleza de ser, porque há alegria na folha que cai, há alegria no sol que cobre de luz as flores, que há alegria na simplicidade de abrir os nossos olhos, a cada dia. Você e eu temos 365 dias para errarmos e acertarmos, ou pelo menos, consertar o que outrora foi errado. Se não der para consertar, pelo menos tenta de novo, e sorria, você está sendo filmado. Quero deixar com vocês um poema de Carlos Drummond de Andrade, que tem muito a ver com isso tudo:

Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e
outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

Deus nos abençoe.

Eládio Batista